
Em novembro, o rock veste preto em tributo a uma das maiores lendas que já existiu. Há 34 anos, o mundo se despedia de Freddie Mercury — vocalista, compositor e alma do Queen — cuja morte, em 24 de novembro de 1991, marcou o fim de uma era e o início de um legado indiscutível de transgressão e provocação.
Se estivesse vivo, teria completado 79 anos no último cinco de setembro. Sua voz, ideias e momentos, porém, ainda ecoam, tão vibrantes e insubmissos quanto no auge; e sua presença segue moldando gerações de artistas e fãs – vide os virais do tiktok utilizando músicas da banda reinterpretadas pela Gen Z.
Farrokh Bulsara
Nascido Farrokh Bulsara, em Zanzibar (atual Tanzânia), e criado em uma colônia britânica na Índia antes de se mudar para Londres, Mercury incorporava em si o espírito do deslocamento — e fez disso sua maior força criativa.
Em “Freddie Mercury: A Life, In His Own Words” (em Tradução livre: “Freddy Mercury: Uma vida, em suas próprias palavras), livro de 1992 organizado por Greg Brooks e Simon Lupton, o cantor revela sua ambição de transformar o palco em algo maior: “Nasci para ser uma estrela e não vejo problema nenhum em admitir isso. ” Certeza esta que moldou uma das presenças mais icônicas do showbizz.
Com o Queen, Freddie redefiniu o papel do frontman. Ele não apenas cantava — encenava. Sua postura teatralizada e irônica, influenciada por Liza Minnelli, David Bowie e a ópera italiana, fez do rock, um espetáculo.
Canções como “Bohemian Rhapsody”, “Somebody to Love” e “We Are the Champions” mostraram uma versatilidade vocal quase sobre-humana e um domínio de composição que transitava entre o barroco e o pop, o punk e o clássico. “A música é ilimitada”, dizia ele, e o Queen seguiu essa filosofia ao romper todas as fronteiras possíveis — sonoras, estéticas e culturais.
Live Aid
Um dos grandes feitos ao vivo de Freddie veio no Live Aid, em 1985, no estádio de Wembley. Em apenas 20 minutos, ele transformou um show beneficente em um momento histórico. A plateia de 72 mil pessoas, regida por seus gestos precisos e carisma inigualável, respondeu a cada verso de “Radio Ga Ga” como um coral mundial.
Décadas depois, aquele momento seria reconstituído em “Bohemian Rhapsody” (2018), cinebiografia vencedora do Oscar que apresentou a genialidade de Mercury a uma nova geração.
Não à toa, “A Night At The Opera”, disco de 1975 com hits como “Bohemian Rhapsody” e “Love of my Life” ganhou relançamento em vinil comemorativo 50 anos depois.
Este foi um álbum imensamente importante, abriu o mundo para nós”, disse guitarrista do Queen, Sir Brian May em recente entrevista.
A trajetória do Queen, e de Freddie, é hoje maior do que qualquer homenagem. A banda, agora liderada por Brian May e Roger Taylor, ainda lota estádios (com Adam Lambert nos vocais — um artista que reconhece, com humildade, que “ninguém substitui Freddie, apenas o celebra”).
E talvez seja esse o verdadeiro milagre de Mercury: mais do que reinventar o rock, ele o humanizou. Transformou a vulnerabilidade em arte, o excesso em virtude, o palco em templo. Sua chama — exuberante, rebelde e imortal — continua queimando em cada nota que ousa ser diferente.